O olhar do ator
«Terás a promessa de voltar ao lugar de partida», de Ricardo Vaz Trindade, é uma peça sobre o olhar do ator. Numa primeira cena temos uma modelo fotográfica que cumpre mecanicamente as poses convencionais enquanto fala torrencialmente perante um fotógrafo mudo. Na segunda cena, um música de rua fala e canta para impressionar uma bela mulher - a modelo da primeira cena -, que o tenta ignorar. Na terceira, a modelo e o seu companheiro voltam para contemplar o lugarejo miserável a que aquela escapou, e que se chama Portugal, materializado na forma de dejetos orgânicos.
O gesto de atuar, da performance, para usar um estrangeirismo em voga, é o movimento que inclui em si o olhar do outro. O ator ou performer é aquela pessoa que, em palco ou não, age para ser visto, porque é visto ou de um modo marcado pela possibilidade do olhar exterior.
Fazer para ser visto é teatralidade, uma característica da arte de todos os tempos, mas também algo que se tornou desconfortável para a arte contemporânea, como um artigo do crítico Michael Fried, em que este declara a teatralidade como a morte da arte, bem revela.
Esta desconfiança contemporânea deve-se à crença generalizada de que aquilo que é feito para ser visto só pode ser falso, só pode ser "fazer teatro". Mas não é evidente que haja qualquer relação direta ou inversa entre a verdade que existe e a verdade que se dá a ver, e alguém que fala e age perante uma audiência não é mais ou menos sincero do que alguém que permanece na sombra ou no silêncio perante essa plateia.
E em «Terás a promessa...» é-nos dito outra coisa: quem faz para ser visto não tenta enganar o observador, mas sim possuir-lhe o olhar. Cada personagem procura dirigir o olhar do outro em cena para aquilo que ela própria quer ver, seja isso verdadeiro ou não. E a prova disso é aquela mesma poia invisível que as duas personagens da peça contemplam no final, que revela a conclusão inescapável de que por mais teatral e exibicionista que algo possa ser, não é por isso menos verdadeiro.
O gesto de atuar, da performance, para usar um estrangeirismo em voga, é o movimento que inclui em si o olhar do outro. O ator ou performer é aquela pessoa que, em palco ou não, age para ser visto, porque é visto ou de um modo marcado pela possibilidade do olhar exterior.
Fazer para ser visto é teatralidade, uma característica da arte de todos os tempos, mas também algo que se tornou desconfortável para a arte contemporânea, como um artigo do crítico Michael Fried, em que este declara a teatralidade como a morte da arte, bem revela.
Esta desconfiança contemporânea deve-se à crença generalizada de que aquilo que é feito para ser visto só pode ser falso, só pode ser "fazer teatro". Mas não é evidente que haja qualquer relação direta ou inversa entre a verdade que existe e a verdade que se dá a ver, e alguém que fala e age perante uma audiência não é mais ou menos sincero do que alguém que permanece na sombra ou no silêncio perante essa plateia.
E em «Terás a promessa...» é-nos dito outra coisa: quem faz para ser visto não tenta enganar o observador, mas sim possuir-lhe o olhar. Cada personagem procura dirigir o olhar do outro em cena para aquilo que ela própria quer ver, seja isso verdadeiro ou não. E a prova disso é aquela mesma poia invisível que as duas personagens da peça contemplam no final, que revela a conclusão inescapável de que por mais teatral e exibicionista que algo possa ser, não é por isso menos verdadeiro.