Crónicas do Bairro dos Livros

«Como a uma família, sinto os livros com o corpo: passo os dedos pelas lombadas, aspiro as páginas, enterneço-me com os vincos, com as páginas soltas, com as manchas de gordura, os sublinhados e os rabiscos. Recordo-me do tato e do odor com que li o livro pela primeira vez, da posição com que o li, deitado de lado ou de costas, apoiado na almofada, suportado pelos braços, soerguido sobre o cotovelo, de pé, ajoelhado ao lado da cama, sentado até, sob luz crua ou com a falta de luz que fazia a minha mãe ralhar. Lembro-me até dos escaldões apanhados na praia a ler, sempre numa voragem febril, como se fosse fatal não conhecer todas as palavras do mundo.»

Dia 16 de junho, às 17h na Livraria Moreira da Costa, no Porto.