Vende-se nome



Shakespeare perguntava em Romeu e Julieta se uma rosa por outro nome teria o mesmo perfume. Eu próprio me tenho perguntado se um concerto no Altice Arena será a mesma coisa que um concerto no Pavilhão Atlântico, se uma peça de teatro no Tivoli BBVA terá o mesmo interesse que um espectáculo no Teatro Tivoli, se um jogo da Liga Nos terá a mesma emoção de um jogo da Liga Portuguesa de Futebol.

Debaixo dos nossos olhos, as marcas andam a instalar-se nos nomes das coisas que nos pertencem. As razões são a do costume: dinheiro.  “Que importa mudar o nome se isto representa receitas no valor de demasiados milhões de euros?” é a lógica inescapável e indizível de que nenhum património imaterial vale tanto como o dinheiro que o pode comprar.

Debaixo da citação de Shakespeare e nos nomes que se vendem está a mesma filosofia nominalista, de que as coisas continuam a existir do mesmo modo, independentemente do nome que tenham.

E, no entanto, os nomes têm poder. Os nomes mudam as coisas na nossa mente, e por isso mudam também a nossa mente. Assim o comprovam estudos que mostram, por exemplo, que as pessoas saboreiam a mesma bebida de forma diferente consoante o nome desta. Como o comprova o facto de as marcas investirem tanto em garantir o impacto do seu próprio nome no espaço público, ao mesmo tempo que nos dizem que os nomes das coisas não são importantes.

Porque as marcas sabem bem que os nomes são fontes de entendimento do mundo. E quando vendemos os nomes dos espaços que nos são comuns estamos a dar às empresas o direito de se afirmarem como fonte da nossa vivência social, de controlarem aquilo que acontece na nossa vida. Que aquilo que vivemos com os outros não é definido por nós, enquanto grupo, mas pela empresa que teve dinheiro para comprar os nomes que damos ao que vivemos, e por isso comprou também as nossas vidas.

E será que daqui a uns anos iremos querer mesmo viver vidas Superbock, Xanax, Nos, ou Nestlé?