O amor como arma política
Perdido entre arroubos sensuais e intimidades emocionais, é raro dizer-se claramente que o amor é primordialmente um gesto político. Assim o revela a necessidade social de o ritualizar, taxar, delimitar, controlar; assim o apontam as questões LGBT; e isso o mostra "Amores Pós-coloniais", do Hotel Europa.
Esta peça de teatro documental junta testemunhos orais, citações teóricas, filmes, imagens, objetos, mas também intérpretes que viveram a questão do "amor entre" na pele: amor entre colonizador e colonizado, amor entre brancos e negros, amor entre nacionalidades e culturas diferentes. O amor enquanto questão e gesto político, que cenicamente se traduz na memorável imagem de os performers usarem cones de sinalização para falar - juntanto assim o sensual e o policial, o individual e o coletivo.
O amor, diz a peça, é algo que trespassa os limites e convenções sociais, mas que também vive delas: das decisões que se tomam, das negociações necessárias entre amantes, familiares, comunidades. E que o corpo - o lugar que o amor habita e que tantas vezes é retratado como desejante ou desejado - em termos políticos e sociais continua a ser fundamentalmente um recurso dotado de capacidades - como aquelas pels quais o encenador pergunta no início - e que, no limite, como num tenebroso episódio que é relatado em cena, mesmo depois de morto pode continuar a servir de recurso para a vida que continua.