A morte da juventude



Morreram Luke Perry, da Beverly Hills 90210, e Keith Flint, dos The Prodigy.
Fizeram parte da minha juventude. Nunca foram meus ídolos, nem me influenciaram, nem sequer me trouxeram momentos de particular prazer ou descoberta. Na verdade, suspeito que o meu processo de amadurecimento teria sido praticamente igual sem que eles tivessem existido ou sido celebridades.
Luke Perry, com o seu ar de James Dean fora de tempo, sempre me pareceu mais um pastiche da ideia de revolta juvenil. Keith Flint, de igual modo, era uma fotocópia de punk que dava uma aura de perigosidade ao que era fundamentalmente uma banda de música de dança.
No entanto morreram relativamente cedo, em circunstâncias dolorosas, ainda a encarnar os arquétipos da sua celebridade, e morreram quando a geração que se recorda deles está paulatinamente a tomar o poder, a presença mediática, e o domínio da memória. E na sua morte esta geração confronta-se com o seu próprio envelhecimento, a sua própria mortalidade. Sem querer de modo nenhum esvaziar o sofrimento que as suas mortes antecipadas acarretam para si e para os que lhe são próximos, a sua morte tem também uma dimensão simbólica de fim da juventude para uma geração inteira.
A juventude é marcada pelo efémero e pelo geracional - não existem duas gerações jovens iguais, apesar do muito em que se assemelham. E com a sua morte, de pessoas que um dia encarnaram uma certa juventude, todos aqueles que se consideraram adolescentes ou jovens durante aquele tempo, entre os anos 1990 e 2000, dão de caras, impiedosamente, com o seu próprio envelhecimento, a sua própria mortalidade. E nisso talvez se encontre o ato mais marcante que ambos fizeram na vida.