Bach, de Pedro Eiras
«Ouço a respiração entrecortada. Os murmúrios, o ruído do comboio a avançar, o ranger da madeira e do metal sobre os carris, toda a noite. E o barulho da terra, lá fora, do vento gelado sobre os campos e as florestas, a folhagem, o silêncio do céu. Espreito por um frincha entre a tábuas de madeira, vejo a paisagem escura, a linha dos montes, as copas das árvores. O ar frio dói-me nos olhos. Vejo as estrelas paradas no céu, muito nítidas. Reconheço a Ursa Maior. O ar frio faz-me chorar.» (p. 122)
Como escrever sobre uma paixão que não seja por aproximações, caminhos indiretos, olhares furtivos. E fazê-lo numa prosa delicada e precisa, como acontece nesta compilação de textos virtuosos e sensíveis, que não são sobre Bach, mas em que este está presente em cada personagem, em cada respirar de vida.