Decadência em Marcha



Adeus, Professor só é tolerável enquanto filme se for visto de madrugada, no canal Hollywood, de preferência num estado de cansaço e insónia dormente. Álcool ou outras substâncias de efeito semelhante também podem contribuir para o usufruto do filme.
Teria também ajudado se fosse um filme dos anos 80, essa década de desespero materialista e videoclubes de esquina, que alimentaram todas as deambulações cinematográficas pelo vazio ou pela simples desorientação existencial.
O filme de que falo é um misto de Clube dos Poetas Mortos com Ensina-me a Viver, mas que não sabe muito bem se quer ser inspirador, ou ameaçador ou tudo ao mesmo tempo, ou apenas nada. Some-se ao enredo disperso as personagens de papelão, as situações inverosímeis, as relações superficiais e os enquadramentos pomposos, e temos o filme perfeito para satisfazer 5% de cérebro lúcido.
A única redenção é Johnny Depp, que aparentemente tem sido o principal alvo de críticas do filme. O próprio notou que se está nas tintas para tudo, mas que isso o tornou melhor ator, e o filme comprova-o. Onde qualquer outro ator tentaria suscitar empatia, cumplicidade, ou fazer piscadelas de olho para o público para lhe mostrar que tudo estava bem, Depp atira a sua personagem para as profundezas da autocomiseração, da indiferença, do egocentrismo e da mais profunda abjeção. Se por um lado isso torna a personagem profundamente desagradável, por outro sabota as boas intenções do filme, mostrando como a liberdade e coragem que é suposto a morte trazer não são mais do que apatia e desejo de atenção, evidenciando a realidade da condição humana com uma crueza que nenhum outro filme em cartaz se atreveria a mostrar.

P.S. - Uma curiosidade: ao procurar informações sobre o realizador, Wayne Roberts, dei conta que o mesmo não tem página da Wikipédia nem biografia no IMDB. Na era de ouro do marketing pessoal, em que qualquer anónimo partilha o seu pequeno almoço com o mundo, não é menos que uma declaração de guerra.