Alecrim vs. Manjerona




António José da Silva é hoje o menos conhecido da tríade de autores dramáticos portugueses consagrados. A sua vida trágica costuma ser mais lembrada do que a sua original obra de óperas cómicas com marionetas. Os seus enredos não divergiam muito do padrão da sua época, mas estão repletos de achados cénicos, hábeis jogos de palavras, saborosas indiretas, e um prazer evidente na subversão, em ridicularizar os poderosos, oportunistas, ganaciosos, imbecis e hipócritas, bem como em simpatizar com os pobres diabos que procuram sobreviver e ser felizes num mundo que lhes é adverso.
Tomando a sua obra-prima, Guerras de Alecrim e Manjerona, uma sátira à futilidade social, às barrocas formas de cortejo e elaborados casamentos de conveniência da sua época, dedicámo-nos a retalhá-la, a acrescentar, retirar, refazer, até chegarmos a este Alecrim vs. Manjerona, uma versão bem mais curta que o original, mas onde salvaguardámos parte da prosa barroca, as músicas inventivas e risonhas, a crítica verrinosa e a sátira a um mundo de aparências, em que o amor não existe sem cálculo, e a vitória vale tudo, mesmo que seja a vitória de umas simples ervinhas de cheiro.
Esperamos com isto respeitar o espírito do texto original e fazê-lo viver nos nossos dias de uma forma que talvez não desagradasse ao próprio Tozé, desculpem, António José da Silva.