Confabulações, de John Berger





Berger tornou-se um herói intelectual do nosso tempo. A sua série televisiva "Modos de Ver" tornou-se a porta de entrada para o entendimento das imagens, tal como foram analisadas por Walter Benjamin. Mas se Benjamin é um místico judeu de tendências políticas difusas e vida pessoal complexa, Berger, na sua figura de proletário hippie, de esquerda não comprometida com o estalinismo, de prosador e ensaísta ligado às artes plásticas, é muito mais agradável aos nossos tempos, em que muitos se definem como anticapitalistas, embora desconheçam completamente a forma como Karl Marx definiu o capitalismo.

É curioso como todas as características de Berger se exprimem tão claramente nos seus livros e tornam a sua escrita tão sedutora. Nele vemos a atenção ao pormenor visual de um pintor, a ternura pelos humildes de um homem de esquerda, a visão transversal da sociedade de um materialista, o esforço de escrita de um proletário, mas, também, a intuição de que tudo no mundo, por muito grande ou pequeno que seja, por mais perto ou longe que esteja, está intimamente relacionado.

Este livro de textos - ensaios, se quiserem - tem o encanto da conversa com um velho amigo erudito, com uma vida riquíssima, mas a quem a vida não retirou nenhum do encantamento do mundo. Em cada texto navegamos por memórias, quadros, música, obras de arte, lutas operárias, como se todas fossem o mesmo, e todas fossem tão límpidas e presentes nas palavras e desenhos de Berger como no instante preciso em que surgiram e desapareceram da face da terra.