Foram quantos anos para este livro, disse ele
Chegou num embrulho amassado, coberto de esferovite branca, que também poderiam ser confetti. O título é imponente, ainda que eu tenha tentado que o conteúdo fosse tão leve quanto possível. Trata-se da publicação em livro da parte principal da minha tese de doutoramento: "A Ação e o Poder no Drama Contemporâneo".
Uma tese de doutoramento é um bicho esquisito, que nos caça durante anos, e quando finalmente quando conseguimos apanhá-la, deita-se aos nossos pés como se fosse um cachorro meigo. Quando a comecei, sabia pouco ou nada. Com a paciência e ajuda das minhas orientadoras, Madalena Oliveira e Antonia Bezerra, com muitas conversas com muitas pessoas, como os professores Albertino Gonçalves e Moisés Martins, e colegas como o Daniel Ribas, começou lentamente a ganhar forma, que depois fui preenchendo lentamente com leituras, reflexões, experiências, inquietações, pesadelos ou simples horas a olhar para a parede, a perguntar em que beco me tinha metido. Um dia ela terminou, depois de muitas páginas, revisões, questões, com leituras atentas da Ana Lemos e da Maria João Leite, e a arguência acutilante de Fernando Matos Oliveira, Rui Pina Coelho, José Miguel Braga, entre outros.
Agora, graças ao entusiasmo incansável do Carlos Alberto Machado e da sua Companhia das Ilhas, ganha a forma de um belo livro, com que dá vontade de nos aconchegarmos num sofá a ler, e a tentar perceber o que é um ação, um acontecimento, uma performance, uma intenção, um afeto, uma atitude, uma relação de poder, e como tudo isto pode acontecer em palco ou fora dele, em obras de criadores dão diferentes como o Tiago Rodrigues, a Visões Úteis, o Marcos Barbosa e outros.
Se avistarem o livro numa livraria física como a Poetria, ou a Snob, ou a Flanêur ou mesmo online, como no site da Companhia das Ilhas, não deixem de pensar um bocadinho nele, que leva 7 anos da minha vida, quase uma velhice de cão.