Mulheres


Sob o pico do sol, a mulher de meia idade loira, de calções curtos, segurava a porta aberta do carro onde ressoava uma batida dura de discoteca. Uma mão na porta, como se fosse um varão, a outra a serpentear, enquanto o corpo se meneava e descia sensualmente até aos pés para voltar a subir. Finalmente a mulher entrou no carro, sentou-se no lugar do motorista, fechou a porta e começou a emitir gritinhos guturais ao ritmo da música, continuando a ondular os braços.
Um homem de rosto fechado saiu da porta da esquadra da polícia, aproximou-se do carro e disse algo inaudível que fez a mulher ligar o automóvel e afastar-se, sempre a ecoar a batida sincopada.
Mais perto, uma mulher idosa desviou os olhos da traseira do carro que desaparecia e virou-se para mim com ar grave: «As mulheres novas são todas doidas.» Levantou-se do banco do jardim e começou a andar, mas ainda se voltou para mim uma última vez, de dedo espetado: «Os homens não se deviam meter com as mulheres de agora. São ainda piores do que eles.»