Sopro, de Tiago Rodrigues




O Tiago Rodrigues é dos mais inteligentes criadores teatrais portugueses da atualidade. Sopro prova-o com toda a mansidão e subtileza.
Exercício de revelar as pessoas da sombra do teatro, Sopro usa aquilo em que Tiago Rodrigues especializou: contar histórias, entretecendo prosa narrativa e fiapos da memória dramática e teatral do Ocidente, em espectáculos que são poderosos na capacidade de comover o público.
Sopro assemelha-se a Três Dedos Abaixo do Joelho, como celebração das vísceras esquecidas e perdidas do teatro, como saudação à resistência e à memória contra o esquecimento - os grandes temas de toda a obra de Rodrigues.
Mas também supera aquele espectáculo na capacidade de nos fazer acreditar que é possível reaver o tempo perdido, é possível repetir gestos perdidos na realidade, como se estivéssemos no teatro. E faz-nos acreditar que, parafraseando um slogan do Teatro Nacional, "há lugar para todos", no palco, à luz da ribalta. Acreditamos, e aí está a força e o engenho emocional do espectáculo, pois racionalmente, a pergunta, crucial nos dias de hoje, continua a perseguir-nos muito para lá da porta de saída: haverá mesmo lugar para todos?