Casa de Família



Shoplifters, de Hirokazo Kore-eda, é um exercício em espaço. Um exercício de distância e proximidade, entre a claustrofobia da casa da avó onde a maioria da ação decorre, e a fragilidade do horizonte marinho, em que a família parece atingir o auge da sua felicidade, antes de se desagregar, por existir sobre mentiras.
A câmara navega este espaço com a elegância e delicadeza de uma pessoa, criando relações, guardando recato, espantando-se com aquilo que vê e com aquilo que não se vê. A sensação que temos é a de um peep show, em que o vidro nos afasta daquelas pessoas, quando mais lhes desejamos ver a cara e entender as mentiras com que se escondem.
É como se a mentira fosse também um espaço - um espaço confortável, mas eternamente periclitante, onde muitos podem conviver, mas sempre sós, uma casa de família em que é a própria casa que cria a mentira de que perfeitos desconhecidos podem ser uma família.