A praia dos outros - crónica

 


«Ainda recentemente estive numa praia ao amanhecer e deparei-me com um grupo de pescadores em plena atividade. O trabalho era mais prosa neorrealista do que poesia: depois de uma volta noturna de barco a motor, para lançar metros e metros de rede, tinham voltado ao areal para a recolher, usando tratores e motores elétricos para puxar as cordas. Era uma tarefa lenta e paciente como já não se usa, feita do silêncio de cigarros. Eram quase todos homens, com um bronze de empalidecer o mais militante frequentador de solários, e quase nenhum tinha menos de 50 anos. A pesca, sentenciou-me um dia outro pescador, é impossível para quem possua um smartphone ou já tenha ido a uma discoteca. »


Como se não tivesse já o que fazer, voltei a escrever crónicas para o Público.