Quem matou o pai de Édouard Louis
Quem matou o meu pai é um livro e texto teatral de Édouard Louis, levado à cena por Stanislas Nordey. Na linha da obra do mentor do primeiro, Didier Eribon, Regresso a Reims, é uma meditação sobre a relação de um filho intelectual e gay com um pai de classe baixa, consumido por uma vida de trabalho e pela rigidez de uma sociedade operária e conservadora.
O texto límpido flui entre reflexões socio-filosóficas e relatos autobiográficos dessa relação problemática entre pai e filho, a quem tudo separa, mas que estão ainda assim vinculados pelos genes e por uma origem comum. Curiosamente, Louis não denuncia no pai nem violência, nem opressão, simplesmente uma incapacidade de expressão emocional e a submissão às pressões sociais, como se o pai fosse uma simples vítima da sociedade em que viveu, sem a abertura de espírito do filho. Embora, não se deixe de registar que foi o pai que cresceu num ambiente de alcoolismo e violência, que escolheu deliberadamente não replicar, e que não deixou de reconhecer o brilhantismo intelectual do filho, bem como aceitar o seu diferente modo de vida, mostrando assim, ele próprio, uma abertura e singularidade que parece escapar ao próprio filho.