O lugar da culpa infinita

Não conheço nenhuma destas pessoas nem tenho qualquer opinião sobre o que terá ou não acontecido entre elas, mas a notícia fez-me pensar numa citação de Voltaire que a internet corrompeu.
A frase original, se bem me recordo, diz que os ministros do governo não servem apenas para resolver os problemas e crises que haja, mas são também culpados pelo que de bem não fizeram. Com ela Voltaire defende a ideia de que a principal função do governo é a de melhorar a vida dos seus governados.
A entidade ambígua e anónima que é a internet entendeu, e partilhou, que a frase ficava melhor como "És culpado de todo o bem que não fizeres". Assim: sem limites, sem explicações, sem dizer se esse bem tem de ser viável, ou evidente, ou possível, ou desejado, ou consensual ou percetível ou outra coisa qualquer. Algo que nem Jesus, nem Buda nem qualquer outro santo alguma vez conseguiu.
E por tudo isso que não diz, a anónima citação da internet condena cada instante que não estamos a procurar obsessivamente o bem a ser um instante de culpa, condena as nossas vidas a uma culpa sem fim.

E suspeito que esse é um dos principais atributos da internet de hoje: o lugar da culpa sem fim.