Cidades de Bronze

 


Como muitos outros, entre os meus 10 e 17 anos, passei muito tempo da minha vida à espera autocarros para voltar para casa. Esperava-os numa paragem perto de uma fonte que tinha no seu centro um conjunto escultórico que representava vários homens e mulheres nus no que parecia ser uma jangada à deriva. Tendo, na mesma altura, visto um trailer do filme Mad Max, com um Mel Gibson ainda não anti-semita, sempre achei que aquelas figuras de bronze só poderiam representar sobreviventes de um apocalipse, em busca de um sítio melhor para viver.
Mais tarde, depois da invenção da Wikipédia, descobri que afinal as figuras era suposto representarem os  ribeiros secos e poluídos da cidade. Bom, depois destes anos todos, continuo a achar que a minha interpretação era melhor. Talvez por isso, nos últimos tempos me tenha dedicado, com uma equipa fantástica, a criar as "Cidades de Bronze", um concerto para estátuas, onde tentamos escavar, não propriamente estátuas, mas aquilo que está por de trás e por de baixo delas. Na crença, e na busca, talvez ingénua, não sei, de que as coisas que colocamos no nosso espaço público não são simples adereços, mas ideias e objetos que não podemos ignorar, se um dia quisermos chegar a um sítio melhor para viver.
Está entre 23 e 28 de maio, na praça da República, sempre às 19h.